FENAREG propõe estratégia de longo prazo para o regadio em Portugal
Os regantes portugueses, representados pela FENAREG, apontam caminhos orientadores das políticas públicas de regadio até 2050, e propõem ações para modernizar o regadio em Portugal, estimando que será necessário investir 1.700 milhões de euros no período 2021-2027.
O regadio é cada vez mais determinante para o sucesso da agricultura no nosso país, para o desenvolvimento da sua economia e para o aumento da coesão do território, constituindo-se inegavelmente como uma das medidas de adaptação às alterações climáticas mais relevantes em matéria de agricultura.
A FENAREG, entidade que representa mais de 90% do regadio organizado nacional, decidiu dar o seu contributo através de um estudo sólido e fundamentado para uma estratégia que enquadre um caminho a seguir em matéria das políticas públicas de regadio nas próximas décadas. Este estudo faz um diagnóstico estratégico e aponta objetivos a alcançar até 2050, um plano de ação a executar entre 2021-2027 (período do próximo Quadro Comunitário de Apoio) e respetivos cálculos do investimento e a origem do financiamento, claramente numa abordagem multifundos.
Os 7 eixos de desenvolvimento estratégico propostos são:
- Expandir a área infraestruturada para rega (criando novas áreas de regadio para mais 250.000 hectares de terrenos agrícolas, metade das quais no Interior do país e que atualmente regam com elevado risco de garantia de água. Até 2027 propõe-se a execução de 50.000 hectares, num investimento estimado de 965 milhões de euros. São áreas que, já sendo regadas a partir de captações privadas e de suficiência limitada, passam a beneficiar de infraestrutura pública coletiva, com um grau de segurança de acesso elevado. Além de expansão de redes já existentes, as três novas obras de rega propostas para 2021-2027 são o Crato, o Projeto Tejo e o Planalto Noroeste de Mirandela.)
- Aumentar a capacidade de armazenamento de água e de regularização interanual (propõe-se o alteamento de algumas barragens que já foram estudadas e a construção de novas barragens nas bacias hidrográficas mais carenciadas do continente, numa abordagem sustentada de fins múltiplos (regadio, abastecimento público e outras atividades econômicas); e a ligação em rede entre bacias hidrográficas. O investimento associado a estas intervenções, a maioria estudos, carece de trabalho ainda a ser desenvolvido. A sua dimensão estratégica abrange os diversos usos. Recorde-se que o armazenamento de água em barragens é necessário para a agricultura, mas também é indispensável para abastecer a população. A título de exemplo, Espanha calcula que se dependesse em exclusivo da água que corre livremente nos seus rios, apenas 9% da sua população poderia viver e desenvolver atividades econômicas no território do país vizinho.
- Modernizar as infraestruturas públicas de rega (visando a redução das perdas de água ao longo dos sistemas de armazenamento e distribuição mais antigos; a redução dos custos de operação destes e a melhoria da garantia de fornecimento de água com qualidade aos utilizadores. Identificam-se prioritárias intervenções em construções anteriores a 1990 que não tenham ainda sido objeto de modernização, a capacitação dos quadros técnicos e instrumentos tecnológicos de apoio à gestão. O investimento estimado para o período de 2021-2027 é de 437 milhões de euros).
- Promover as melhores práticas de rega nas explorações agrícolas (o objetivo é aumentar a eficiência no uso da água e da energia pelos agricultores regantes, através da criação de apoios para adoção de tecnologias de rega de precisão. As metas a atingir até 2050 incluem a reconversão de 200.000 ha para sistemas de rega mais eficientes; a adoção de práticas de agricultura de precisão em pelo menos 50 % da área, e a redução do peso médio da energia no custo de cada m3 de água para um máximo de 30%, com instalação de sistemas de energias renováveis e adequação do regime de potência. O investimento estimado até 2027 é de 225 milhões de euros).
- Reforçar a sustentabilidade ambiental do regadio (propõe-se o desenvolvimento, em colaboração com o Ministério da Agricultura e o Ministério do Ambiente, de uma norma para o reconhecimento, e posterior certificação, de “explorações de regadio sustentável”, que incorporem entre outras dimensões a proteção e gestão dos recursos hídricos, a conservação do solo, o contributo positivo para a biodiversidade (habitats e espécies) e a melhoria da sustentabilidade carbónica. A adoção destas ações contribuirá para a criação de Zonas Agrícolas de Regadio Sustentável. O objetivo é atingir 100.000 hectares certificados até 2027. O investimento estimado é 10,5 milhões de euros).
- Compatibilizar instrumentos de ordenamento do território e de conservação da natureza com a expansão das áreas regadas (um dos objetivos é a criação de “acordos de responsabilidade” entre as entidades gestoras das áreas protegidas/classificadas e os utilizadores da água para rega, prevenindo conflitos e prevendo mecanismos de resolução claros quando eles ocorrem, considerando o contributo dos significativos avanços que a ciência e a tecnologia têm vindo a proporcionar). O levantamento de zonas de sobreposição, revisão de áreas e implementação de mecanismos de compensação, são algumas das ações deste eixo que abrange todos os aproveitamentos hidroagrícolas, com um investimento estimado de 11 milhões de euros.
- Rever os modelos de tarifários da água e adequar a legislação à nova realidade (visa a criação de um sistema claro, equilibrado e equitativo dos tarifários associados à utilização de água para rega, premiando os aumentos de eficiência e integrando o valor das externalidades positivas (sociais, territoriais e ambientais) no cálculo do “preço da água” à luz do que define a Lei da Água. A meta a atingir até 2027 é a adequação da legislação à realidade mais complexa que já existe no terreno (e que se deverá aprofundar no futuro) e a revisão dos modelos de tarifário praticados em todos os perímetros de rega públicos). O investimento previsto é de 500.000 euros.
Para financiar o conjunto de ações propostas e atingir as respetivas metas são apontados os instrumentos financeiros FEADER, FEDER, Fundo Social Europeu, Fundo Ambiental, empréstimos do Banco Europeu para o Investimento, Orçamento Geral do Estado e privados.
A proposta da FENAREG para uma estratégia de longo prazo do regadio em Portugal foi formalmente apresentado, a 14 de Junho de 2019, na Feira Nacional de Agricultura, em Santarém.
O Ministro da Agricultura, que presidiu à sessão de encerramento do evento, afirmou que irá «apreciar com a atenção que merece este importante estudo da FENAREG, na certeza de que haverá contributos que serão tidos em conta pelo Governo». Luís Capoulas Santos garantiu ainda que «o país e o setor terão em mim um aliado para que a fasquia dos 750 milhões de euros possa ser ultrapassada, depois de fundamentada a sua necessidade com estudos concretos como este que foi apresentado pela FENAREG».
Publicação da Síntese do Contributo da Estratégia Nacional para o Regadio
Apresentação Estratégia Nacional para o REGADIO 2050
Vídeo da Estratégia Nacional para o Regadio